OS JARDINS DA DONA CARLOTA.
Eram pouco mais de 6 horas da tarde, o rádio tocava mais um sucesso; “Caminhando contra o vento...” A panela de pressão assobiava como uma pequena locomotiva, soprando fumaça, Carlota sentada próxima a janela da sala, amamentava Carolina e tinha olhos perdidos no horizonte pintado de vermelho e amarelo fogo, onde o sol se escondia lentamente. Por conta do ocaso do sol e a pouca luz natural o quadro tinha a atmosfera do retrato de uma Madona. Naquele exato momento, Carlota pensava como a vida era a própria representação de um milagre, e Carolina, a filha que sugava o seus peitos era a mais exata prova disto.
Marx, o filho mais velho, ainda jogava bola com os meninos num campinho nos arredores da casa. Esta era a sua rotina de manhã à noite jogando bola, fubeca, empinando pipa, exercendo os seus sagrados direitos de brincar e ser feliz. Marx era uma criança. Era inocente. Não sabia de nada, e só por essa santa ignorância é que podia ser feliz.
Raul, o marido, entrou em casa, quebrando a corrente dos seus pensamentos, estava acompanhado de dois homens, vestidos em farda verde oliva, Raul, foi direto ao quarto do casal e Carlota instintivamente apertou um pouco mais Carolina contra o peito. De volta a sala, o marido carregava um saco de papel, de onde transbordava parte de uma legítima calça Lee. E Carlota pensou no quanto Raul era desleixado – Como pode? Carregar roupas em pacotes de supermercado? Raul se ajoelhou para poder ficar no mesmo nível que Carlota que permanecia sentada e amamentando, olhou-a tão profundamente nos olhos que parecia querer entrar dentro deles, e Carlota viu, nos olhos do seu homem, a mesma perplexidade que via nos olhos da pequena Carolina.
Carlota! – Ele disse, suavemente beijou a sua mão. – Eu tenho que ir com esses senhores. E para usar uma desculpa bem clássica, digo que vou comprar cigarros. E você vai dizer: “Mas, você não fuma!” Pois, comecei hoje, agora. A partir de hoje você vai saber que eu fiz coisas que.... Que eu peguei por pensamentos e ações. Vai descobrir que na verdade, nunca me conheceu. Esses dois senhores são militares e vão me escoltar até a padaria mais próxima. Vivemos tempos violentos e nunca se sabe quando seremos atacados por malfeitores. Eles me protegerão. Estou levando umas trocas de roupas para caso não achar a marca de cigarro que eu quero, nos bares e padarias aqui no bairro. Então, talvez eu tenha que viajar até outra cidade para encontrar minha marca. Talvez, eu demore, ou talvez eu nunca mais... Entendeu Carlota, “nunca mais”, eu volte. Se isto acontecer, quero que diga aos meus filhos que o pai deles foi um homem tolo na opinião da maioria, um homem que aproveitou as oportunidades que a vida ofereceu, que preferiu a estrada de pedras ao caminho das flores, que preferiu escalar a montanha quando podia ter chegado ao topo de helicóptero. Diga a Marx, que o pai dele desconfiava da existência de Deus, mas torcia por estar errado e acreditava em três belas palavras; Igualdade, Fraternidade e Liberdade. Diga a Carolina que o pai dela amava a vida como um menino ama sua mãe e principalmente amava sua mulher e seus filhos. Seus únicos tesouros. Eu já vou! – Gritou, Raul, para um dos homens que pediu que ele se apressasse. – Quando a você me amor, temo ter que deixá-la tão só e desprotegida. Mas, saiba que, mesmo distante, não deixaria um dia de pensar em você e te mandarei todo dia, confiando na força do amor que tudo pode, a luz da minha alma para te iluminar e te guiar. Adeus! – Disse isto, e partiu sem olhar para trás.
O rádio tocava outra música de sucesso. “Espero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá para o inferno”
Meses depois, Carlota começou a desconfiar, e ela não acreditava mais na história do cigarro. Inúmeras possibilidades lhe foram apresentadas, para algumas, Raul, fugira com uma Brasilina, famosa mulata de maravilhosas e improváveis ancas, (uma verdadeira égua de raça), passista da “Unidos do amor eterno de Vila Cachoeira”, outros, diziam e apostavam suas vidas nisso, que Raul fora seqüestrado por seres do espaça. Baseavam – se no fato de que se o homem estava próximo de chegar à lua, (coisa que Carlota desconfiava ser uma inversão de Hollywood), os marcianos podiam muito em vir até aqui para recolher qualquer um de nós como espécimes para estudo. Era isto. Neste momento, o pobre Raul era um corpo vazio, conservando em uma versão marciana do nosso formol. Seus órgãos eram estudados atentamente por uma entusiasmada comissão de homenzinhos verdes. Aqui um coração preso numa engenhoca de para fusos e mangueiras ainda batendo, ali o pulmão como um fole, pendurado. – Que horror! – Interrompia Carlota, o dono daquela hipótese absurda. Para os pais de Carlota, Raul realmente encontrava outro alguém, não necessariamente uma mulher. Silvéria, a mãe, nunca viu seu genro como um exemplo de virilidade. – Muito romântico! Dedicado que, sonhador! – repetia dona Silvéria, a professora do colégio secundário, a quem os alunos chamavam pelas costas de “Cascavel”, rígida, invocada, feroz defensora da ordem, era capaz de arrastar o mau aluno pelas orelhas, levá-los pelos corredores da ordem até a diretoria.
Voraz comedora de hóstias, católicos fervorosas, dessas que ajudam o padre reze a missa chegando às vezes ao cúmulo de interferir no texto dos sermões, colocando, por exemplo, recados ameaçadores para os fiéis que, sabia ela, estavam agindo de maneira indigna, manchado com seus atos toda a comunidade. Seus alunos eram tratados na chibata. Sádica, se divertia vendo nos olhos das meninas, o medo que ela inspirava. Tratava a todos como seres inferiores, com exceção do Ribamar quer além de aluno aplicado era também campeão sul – americano de nado de peito, categoria júnior, filho do Dr. Aristóteles, renomeado dentista, respeitabilíssimo cidadão. O filho com certeza seguiria os passos do pai, ela profetizava.
O que ninguém sabia é que a “Cascavel” nutria por Ribamar, um tesão maior que as cataratas do Iguaçu, maior que o Pão de açúcar, só comparável ao medo de confessá-lo. Várias vezes ela ensaiava se declare para o menino de dezessete anos, o anjo louro com corpo de Apolo, corpo de Homem já, graças a natação, mas, não tinha coragem, se achava ridícula, a velha babenta correndo atrás do menino que bem poderia ser seu neto, suspirava quando ele se aproximava para que ela corrigisse as lições e de madrugada obrigava a tomar banhos gelados e aí, chorava de forma inconsolável.
Certa vez Raul, sem querer pegou a sogra em fragrante delito, a velha pensando que se encontrava só em casa , se masturbava, deitada em sua cama a mão dentro da calcinha e delirando repetia o nome do seu anjinho dos cachos dourados. Não é necessário dizer o quanto a situação foi traumática. Desse dia em diante, Dona Silvéria passou a tratar a Raul com profundo desprezo e antipatia.
O pai de Carlota uma vez por mês passava em sua casa afim de quitar todas as contas e deixar mais uma quantia para as despesas do dia – a – dia. E assim ela se manteve. Os meninos cresciam, Carolina já ensaiava os primeiros passos e as primeiras palavras, Marx estava abrindo todas as portas do mundo com sua “turma”, fumava, bebia, descobria as meninas. Com os anos, Carlota ficou na condição de viúva, de pessoa disponível na praça e não faltaram pretendentes a lhe prometerem castelos, tesouros, orgias. Mas, Carlota permaneceu fiel a memória de seu amado Raul.
Um dia, muitos anos depois recebeu um pote ceio de cinzas e com um bilhete anexado, onde se lia apenas: “Coloque em seu jardim”, quando tocou o pote com as cinzas teve um aceso de choro inconsolável. As vizinhas comentaram; “Pobre Carlota, cada dia mais fora do mundo real”
E Carlota fechada no seu mundinho se questionava; “louca eu? E porque? Simplesmente porque tinha dificuldades em entender o mundo ao seu redor? Não era culpa sua, o mundo é mesmo, uma matéria complicada”. Todos conhecem o certo e o errado. Isto pode, aquilo não! “Faça a coisa certa, Raul! Porque optamos sempre pelo caminho menos indicado para trilhar.”
A bíblia, (livro de cabeceira de Carlota), sobretudo o Novo Testamento, (via no antigo muitas contradições), representava um verdadeiro manual de como se deve agir diante do mundo.
– “Marx, é por aí que se anda!” Mas se não seguiam a estrada indicada pelo Cristo, por certo não seguiriam a estradinha de Carlota.
Todos diziam: “Eu quero ser feliz!” E batiam nas portas erradas Dinheiro, sexo e poder, nada disso abrigam a dona felicidade. O segredo, se é que havia algum, Pois, para ela a reposta estava escancarada, bastava aproveitar bem o dia e cada de uma vez, provar o sabor de cada segundo. Carlota havia provado bons e maus momentos e dava a todos a mesma importância. Porque afinal, de todos ainda podia sentir o gosto. Tinha guardado consigo a gosto, de Raul e por isso era mais fácil suportar a sua ausência. E agora, estava preste a ter outra perda, seu pai estava morrendo. E quando o velho teve certeza de que a morte era inevitável, mandou chamar Carlota.
Ela o encontrou moribundo. Ora lúcido, ora com terríveis alucinações.
– Os que habitavam os porões de Jânio, foram os responsáveis por sua renúncia. Estou a caminho da ultima parada! Estou a caminho. E o arcanjo Gabriel é quem fala por mim, agora. O anjo do Senhor fala pela minha boca. Existem dois universos, minha filha. O mais perceptível, claro, fica na superfície, o outro é absurdo e vive mergulhando nas profundezas. Deste último, faz parte o mau que me devora por dentro. Já há muito tempo, que eu apodrecia. Estes dois universos são como aquele jardim, que tanto você cuida e ama. Na superfície avistamos as flores ordenadas por espécies em canteiros, as rosas, os cravos, as margaridas, as violetas, as azaléias... As flores cumprindo o seu ciclo; primeiro o botão que depois desabrocha, murcha e morre. Assim funciona esse universo, cheio de organização, lógica e ordem. Visitam seu jardim os rouxinóis e as abelhas (nada mais dentro da ordem e organizado que uma abelha) Mais, não é só isso! Nos subterrâneos do jardim habita uma outra classe de seres bem menos belos e ordeiros. Junto ao estrume, ao, lixo, se alimentando da matéria morta, dos restos de comida e da carniça de pequenos animais, vivem os seres das sombras repulsivos, nojentos, predadores, devoradores do universo acima. O Brasil está contido em ambos os universos. Em um, somos os país do futuro e realizamos o “Milagre brasileiro”, no outro existe o terror, a repressão, a miséria e o endividamento que comprometerá nossa soberania e nosso futuro. O seu marido por exemplo, caminhava com um pé em cada um destes universos. Na da superfície era um pobre rapaz desempregado, com R.G e C.P.F, um genro, um marido, um pai. No outro um anarquista, um subversivo, um terrorista! Mais um predador, que felizmente foi apanhado, graças ao sogro delator, sim fui eu que entregou o seu marido. Na superfície ele saiu para comprar cigarros, no subterrâneo foi preso, torturado e morto ... Eu estou a caminho! Estou indo!”
E foi, como o braço estendido para o alto. Se soubesse, o falecido teria usado também o exemplo da sua própria mulher para provar sua teoria. Dona Silvéria que na superfície era um exemplo de conduta moral e por debaixo do pano, uma verdadeira tarada.
Carlota ao sair do quarto foi questionada a respeito do que lhe dissera o morto e ela respondeu: “Pobre papai, não falou coisa com coisa. A doença destruiu sua sanidade. Falou um monte de coisas improváveis. Dentre elas, disse que meu marido havia sido morto pelo nosso governo e que suas cinzas eram aquelas que joguei no meu jardim.”
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
ONLY THE STRONG SURVIVE
In the love
In the life
Only the strong survive
In the jungle
In the night
Only the strong survive
Only the strong survive
Only the strong survive
In the street
In the fight
Only the strong survive
In the darkness
In theses days when you die
Only the strong survive
Only the strong survive
Only the strong survive
In a second
Your life is gone
And you see
What crazy is all!
When the wind breaks all your bones
Try not to cry
Stand up and shine
Because, only the strong survive
In backstage
In middle-age
Dancing in the cut of knife
One moment before the fall
Remember - Only the strong survive
Is so hard
But is real
Only the strong survive
In lonely days
In the School
In the bed
In the sea
In the war
On TV
In the job
In the sky
Believe brother the world is a sordid lie
In the love
In the life
Only the strong survive
In the jungle
In the night
Only the strong survive
Only the strong survive
Only the strong survive
In the street
In the fight
Only the strong survive
In the darkness
In theses days when you die
Only the strong survive
Only the strong survive
Only the strong survive
In a second
Your life is gone
And you see
What crazy is all!
When the wind breaks all your bones
Try not to cry
Stand up and shine
Because, only the strong survive
In backstage
In middle-age
Dancing in the cut of knife
One moment before the fall
Remember - Only the strong survive
Is so hard
But is real
Only the strong survive
In lonely days
In the School
In the bed
In the sea
In the war
On TV
In the job
In the sky
Believe brother the world is a sordid lie
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poesia
Eu nao estou lá
Eu não estou lá!
Todos os dias eu olho o firmamento,
E o encontro no mesmo lugar,
Então se a vida prossegue a contento...
Como se explica esta falta de ar?
Respirar!
Não consigo respirar!
Me mover...
Não posso me mover!
Mesmo parado tendo a não me equilibrar.
Eu sei que existe um lugar.
Talvez um lar.
Talvez um bar!
Mas é inútil!
Porque eu não estou lá!
Todos os dias eu olho ao redor
E vejo o passeio dos desesperados
Sombras aflitas; migalhas de brilho e pó.
E mesmo com os meus ouvidos lacrados.
Olhos vazados! Olhos costurados.
Puto e calado
Pulsos atados
Deve haver algum lugar.
Para minha paz
Mas eu não estou lá
Eu sinto o peso dos olhares superiores,
Dedos em ristes apontando para mim
São bons soldados, juízes e os senhores.
Eles me querem bem longe dos seus jardins
Eles engraxam a roda universal
Eles recolhem o imposto semanal
Eles prometem a satisfação
Eles patrocinam minha doce ilusão
Minha poesia é um bisturi
A letra amarga, o sangue no olho,
A tripa exposta. Eu quero lhe abrir.
Descobrir em você o que me faz sufocar.
Precipitar... Desmoronar...
Estreitar... e desacelerar.
Alguém aqui podia ser o meu lugar.
Mas é inútil!
Porque eu não estou lá!
Todos os dias eu olho o firmamento,
E o encontro no mesmo lugar,
Então se a vida prossegue a contento...
Como se explica esta falta de ar?
Respirar!
Não consigo respirar!
Me mover...
Não posso me mover!
Mesmo parado tendo a não me equilibrar.
Eu sei que existe um lugar.
Talvez um lar.
Talvez um bar!
Mas é inútil!
Porque eu não estou lá!
Todos os dias eu olho ao redor
E vejo o passeio dos desesperados
Sombras aflitas; migalhas de brilho e pó.
E mesmo com os meus ouvidos lacrados.
Olhos vazados! Olhos costurados.
Puto e calado
Pulsos atados
Deve haver algum lugar.
Para minha paz
Mas eu não estou lá
Eu sinto o peso dos olhares superiores,
Dedos em ristes apontando para mim
São bons soldados, juízes e os senhores.
Eles me querem bem longe dos seus jardins
Eles engraxam a roda universal
Eles recolhem o imposto semanal
Eles prometem a satisfação
Eles patrocinam minha doce ilusão
Minha poesia é um bisturi
A letra amarga, o sangue no olho,
A tripa exposta. Eu quero lhe abrir.
Descobrir em você o que me faz sufocar.
Precipitar... Desmoronar...
Estreitar... e desacelerar.
Alguém aqui podia ser o meu lugar.
Mas é inútil!
Porque eu não estou lá!
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